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A Evolução da Evolução
 
 
 
Muitos povos antigos aceitavam a idéia de que o mundo e as coisas que nele existiam eram mutáveis. No entanto, por volta do século IV antes de Cristo, o filósofo grego Platão postulou que as entidades que vemos no mundo real são apenas cópias imperfeitas de uma entidade perfeita que só existe no mundo das idéias, chamada de "eidos", ou tipo. Devido a esta teoria, os estudiosos não aceitavam que mudanças grandes pudessem ocorrer. Afinal para que algo realmente novo (uma espécie, por exemplo) pudesse surgir, seria preciso que surgisse um novo tipo. Isso, porém não era aceitável, pois o mundo dos "tipos" era perfeito, e sendo assim, deveria ser completo. Da mesma forma, nada podia ser extinto, pois para isso seria preciso extinguir um "tipo".
No entanto, por volta do final do século XVIII, começou a surgir, em várias áreas da ciência, a percepção de que o mundo não poderia ser tão imutável assim. Os naturalistas em particular perceberam que muitos fósseis de animais e plantas não podiam ser atribuídos a nenhum ser vivo moderno. Tudo indicava que pertenciam a espécies que não existiam mais. Se isso fosse verdade, era preciso concluir que o número de espécies não permanecia o mesmo, pois algumas espécies do passado tinham se extinguido.
 
 
 
Na mesma época, a geologia tinha feito muitos progressos e vários geólogos estavam propondo a idéia revolucionária de que a Terra tinha muito mais do que os poucos milhares de anos de idade que lhe eram atribuídos até então. Se isso era verdade, então os próprios fósseis deviam ser muito mais antigos do que se pensava. Isso significava não apenas que tinham existido seres no passado que não existiam mais, mas também que os seres existentes hoje não tinham existido antes, pois seus fósseis nunca eram encontrados associados as rochas mais antigas. Parecia que as espécies tinham surgido e desaparecido continuamente ao longo dos muitos anos de existência da terra. Este ponto de vista encontrava um paralelo na teoria do uniformitarismo, que surgira na geologia. Esta teoria dizia que os fenômenos geológicos que haviam atuado no passado continuavam atuando no presente e, portanto, a geologia do planeta estava sempre mudando, de forma lenta, porém constante.
   
   
  Fóssil de um Ichtyosaurus quadricissus, trata-se de uma fêmea grávida que foi morta no momento em que um dos filhotes estava nascendo.  
 
 
 
O primeiro cientista a propor que os seres vivos podiam passar por um processo semelhante foi o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck, em 1809. Ele defendeu que as espécies surgiam continuamente, a partir da matéria inanimada, assumindo formas cada vez mais complexas e "superiores" por meio de uma tendência inerente à complexidade. Segundo ele, cada linha evolutiva seguia um caminho próprio, que dependia do ambiente onde ela se desenvolvia. Graças ao seu trabalho, a idéia da evolução dos seres vivos tornou-se um assunto importante na primeira metade do século XIX. Apesar de toda esta discussão, foram necessários quase cinqüenta anos antes que a evolução dos seres vivos fosse aceita pela maioria da comunidade científica.
Conheça as idéias de Lamarck
Em 1859, o naturalista inglês Charles Darwin publicou os resultados de quase trinta anos de coletas e observações sobre evolução. Sua obra, intitulada Sobre a Origem das Espécies por Seleção Natural ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida continha evidências poderosas de que as espécies realmente evoluíam. Além disso, ele propunha que as espécies evoluíam por meio da sobrevivência dos indivíduos mais capazes. Esta obra foi capaz de convencer a maior parte da comunidade cientifica de que as espécies realmente evoluíam, embora nem todos tenham concordado que elas o faziam por meio da seleção natural.
Conheça o trabalho de Darwin
Foi só nas décadas de 1930 e 1940 que o conceito de seleção natural voltou a ser considerado pelos biólogos. Nesta época já se sabia que todos os caracteres eram determinados por genes, e que são os genes que transmitem a herança entre as gerações. Sendo assim, os biólogos perceberam que, para evoluir, uma espécie deveria receber novos genes ou, de forma mais correta, deveria sofrer alterações nas suas freqüências gênicas. Depois disso, o estudo da evolução passou a ser considerado uma parte da genética, e pode aproveitar os conhecimentos obtidos por esta. Foi nesta época, também, que os biólogos começaram a aceitar que as diferenças encontradas entre indivíduos de uma mesma espécie não eram "erros", e sim parte integrante de sua natureza, como Darwin já havia percebido mais de setenta anos antes. Dois mil e trezentos anos após Platão, o conceito de "tipo" finalmente começava a ser posto de lado pela biologia.
Só para lembrar: A evolução biológica é a mudança nas freqüências gênicas de populações de uma espécie.
Da união dos conhecimentos da genética, sistemática e paleontologia, com a contribuição de Darwin nasceu a chamada síntese evolutiva ou teoria neodarwinista. Esta teoria, considerada unificadora das ciências biológicas, recuperou o conceito de seleção natural, e acrescentou a ele outras forças evolutivas, formando um modelo mais complexo para tentar responder a pergunta: como as populações evoluem?