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Lírica camoniana
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Lírica Camoniana
Cantiga A este mote: Vi chorar uns claros olhos Quando deles me partia. oh, que mágoa! oh, que alegria! Voltas Polo meu apartamento se arrasaram todos d’água. Quem cuidou que em tanta mágoa Achasse contentamento? Julgue todo entendimento qual mais sentir se devia: se esta dor, se esta alegria! Quando mais perdido estive, então deu a esta alma minha na maior mágoa que tinha o maior gosto que tive. Assim, se minh’alma vive foi porque me defendia desta dor esta alegria.
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Camões
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Quando mais perdido estive, então deu a esta alma minha na maior mágoa que tinha o maior gosto que tive. Assim, se minh’alma vive foi porque me defendia desta dor esta alegria. O bem que Amor me não deu no tempo que o desejei quando dele me apartei me confessou que era meu. Agora, que farei eu se a fortuna me desvia de lograr esta alegria? Não sei se foi enganado, pois me tinha defendido das iras de mal querido no mal de ser apartado. Agora peno dobrado, Achando no fim do dia o princípio d’alegria. In Para tão longo amor tão curta a vida. Sonetos e outras rimas Luís de Camões. São Paulo, FTD, 1998.
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O que achou do poema de Camões? O que o eu-lírico está sentindo? Tanta confusão de sentimentos só poderia ser amor. O eu-lírico sente tristeza e alegria ao mesmo tempo. Tudo isso por quê? Porque no momento da despedida descobriu que a jovem que amava também o amava. O sofrimento da partida foi amenizado por tal descoberta. Embora seja penoso ficar longe da amada, cada final de dia significa um dia a menos de separação. Perceba que todo o poema é construído a partir de oposições para mostrar como o amor é contraditório.
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A obra lírica de Camões foi reunida com o título Rimas e publicada postumamente, em 1595. Seus poemas podem ser de dois tipos, que representam duas tendências de sua época: “medida velha” (versos redondilhos maiores e menores, de origem medieval) e "medida nova" (versos decassílabos, de origem italiana) . O poema acima foi escrito em medida velha. Abaixo, apresentamos um dos sonetos mais famosos de Camões, escrito em “medida nova”.
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Novamente a temática é amorosa. O amor é apresentado como contraditório, irracional (outra vez!). Esse era um dos ideais clássicos. O amor é ilógico e quem ama não age de acordo com a razão. A paixão torna-se sinônimo de sofrimento físico e psicológico. |
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Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente; é um contentamento descontente; é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo amor? In Rimas. Edição de A.J.da Costa Pimpão. Coimbra, Atlântida Editora, 1973, pg. 119. |
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