Esse soneto mostra a influência dos humanistas italianos, principalmente Petrarca. Camões usa a “medida nova” com os versos decassílabos e dá preferência ao soneto. Os temas mais freqüentes dos poemas de Camões em “medida nova” são o amor e a reflexão sobre o desconcerto do mundo. Nesse poema, o eu-lírico está sofrendo por amor, sua voz está fraca, sente-se perdido. A natureza é a solução para amenizar seu sofrimento, escutar a “longa história de seus males”, é sua confidente. Nesse tipo de obra predomina a concepção neoplatônica do amor. Segundo Platão, filósofo grego, existiriam dois mundos: o inteligível e o sensível. No primeiro, formado pelas idéias, tudo é perfeito e belo. O segundo, das coisas reais e concretas, existe imperfeição, é apenas uma projeção do primeiro. O amor verdadeiro é um ideal superior, universal, o amor-idéia, enquanto o amor real, o amor físico, uma projeção imperfeita do verdadeiro amor. Em sua poesia, a mulher, também ser imperfeito, apresenta-se idealizada. |
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Pois meus olhos não cansam de chorar Tristezas, que não cansam de cansar-me; Pois não abranda o fogo em que abrasar-me Pôde quem eu jamais pude abrandar; Não canse o cego amor de me guiar A parte donde não saiba tornar-me; Nem deixe o mundo todo de escutar-me, Enquanto me a voz fraca não deixar. E se nos montes, rios ou em vales Piedade mora ou dentro mora amor Em feras, aves, plantas, pedras, águas, Ouçam a longa história de meus males, E curem sua dor com minha dor, Que grandes mágoas podem curar mágoas. Camões |
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