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Mas era muito fácil voltar a trabalhar mesmo nessas condições. Contanto que se seja feliz, consegue-se suportar qualquer disciplina: foi a infelicidade que me quebrou os hábitos do trabalho. Quando comecei a perceber o quanto discutíamos, o quanto a provocava com minha irritação, conscientizei-me de que nosso amor estava condenado: o amor tinha-se transformado num caso de amor com um princípio e um fim. Eu era capaz de dizer o momento exato em que ele havia começado, e sabia que um dia seria capaz de dizer a hora exata do fim. Quando ela ia embora, não conseguia sentar-me para trabalhar: reconstituía o que havíamos dito um ao outro e era tomado de raiva ou remorso. E o tempo todo sabia que estava forçando o passo. Eu estava empurrando para fora da minha vida a coisa que mais amava. Enquanto pude fazer de conta que o amor durava, fui feliz – acho que fui até agradável no convívio. E então o amor durou. Mas se o amor tinha que morrer, eu queria que morresse logo. Era como se nosso amor fosse uma pequena criatura apanhada numa armadilha e que estivesse sangrando até a morte: eu tinha que fechar os olhos e torcer o seu pescoço. Graham Greene - Fim de Caso
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