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Relato asteca
 
 
 
O texto abaixo descreve um cerco feito pelos espanhóis aos astecas. Seu autor é desconhecido, mas sabe-se que ele foi escrito em Tlatelolco, importante cidade asteca. Com ele é possível perceber como os indígenas perceberam e sentiram o domínio espanhol.
E tudo isso nos aconteceu. Nós vimos. Ficamos admirados:Vimo-nos atormentados por este destinoTriste e digno de lamentações.Pelo caminho jazem dardos quebrados;Os cabelos estão espalhados.As casas perderam seus tetos,E vermelhas são suas paredes.
Os vermes pululam pelas ruas e praçasE as paredes estão manchadas de resto de cérebro.
Vermelhas são as águas, como se tivessem sido tingidas, E se as bebêssemos seria água de salitre.
Em nossa ansiedade, batíamos nos muros com tijolos
E nos restava de lembrança uma rede esburacada.
Nos escudos estava nosso último refúgio
Mas os escudos não podem acabar com a desolação.
Comemos galhos de árvores.
Comemos gramas salitrosas,Pedaços de tijolos, lagartos, ratos,
E terra reduzida a pó e até mesmo vermes.
Comemos carne mal cozida.
Mal a carne estava cozida eles a arrancavam, e a comiam enquanto ela
Ainda estava no fogo.
Puseram-nos a preço.
O preço do homem jovem, do padre, da criança
E da moça.
É o bastante: o preço de um pobre era de apenas dois punhados de Milho; nosso preço era de apenas vinte tortillas de grama salitrosa.
Ouro, jades, ricos casacos, plumagens de quetzal, tudo o que é precio-so, não tinha mais valor.

Texto anônimo de Tlatelolco. In: Romano, Ruggiero. Mecanismos da conquista colonial. São Paulo, Perspectiva, 1973.