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Justiça é vital para reconciliação em Ruanda após genocídio. Graciela Damiano, enviada especial a Kigali Todas as noites, por volta das 19h30, o canal estatal de televisão de Ruanda apresenta as "canções da reconciliação", em que um grupo animado canta e dança músicas alegres. Às vezes as imagens são de sol, lago, natureza.O governo ruandês está usando os meios de comunicação para promover a harmonia entre hutus e tutsis - as duas etnias envolvidas no genocídio de 1994, quando hutus radicais apoiados pelo governo da época massacraram quase um milhão de tutsis, hutus moderados e tvás em cerca de 100 dias. A população era estimada em menos de 8 milhões de habitantes. Cerca de 9 por cento eram tutsis.Apesar dos anos, persiste um clima de tensão e ódio étnico entre as duas comunidades. O governo de unidade nacional do presidente Paul Kagame considera vital para a reconciliação no país o julgamento dos supostos envolvidos no massacre, que chegam a mais de 100 mil. (...) História de ódio Lutas entre ambos os grupos não são novidade. O próprio ministro da Justiça explica que o genocídio de 94 foi resultado do "ódio que foi cultivado durante muito tempo."Houve massacres em 1959, 1968, 1973 e 1990. O ministro diz que o problema é que "os responsáveis não foram castigados". Em 1994, o governo de maioria hutu formou uma milícia chamada de interahamwe (tradução: todos juntos), e fez propaganda no rádio e na televisão, envolvendo inclusive integrantes da Igreja Católica e Protestante do país, em uma campanha de ódio. No dia 6 de abril, quando o avião que transportava o presidente ruandês Juvenal Habyarimana, e o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, foi derrubado, os tutsis foram responsabilizados, e a matança começou em poucas horas.(...) Mesma língua Hutus e tutsis falam a mesma língua - quiniaruanda - e não são muito diferentes fisicamente, embora seja costume dizer que os tustis geralmente são mais altos e esguios, e os hutus, mais baixos e corpulentos. Houve muitos casamentos inter-raciais em Ruanda. Além disso, muitos hutus acabaram classificados pelos antigos colonizadores europeus como tutsis e vice-versa. A classificação era feita de acordo com as posses. Quem possuía cabeças de gado tinha registrado na carteira de identidade que era integrante da minoria tutsi. O tutsi que perdesse seu rebanho se tornaria um hutu. Os tvá, como são chamados os pigmeus, compreendem apenas 1 por cento da população. Vários deles foram mortos por causa da percepção de que se associaram aos tutsis. Sem perdão Apesar dos esforços do governo de unidade nacional, muitos ruandeses estão achando difícil perdoar. O genocídio deixou milhares de viúvas no país. Mulheres foram estupradas e contraíram o vírus HIV, causador da AIDS. Winifrid Mukagihana, conta que estava grávida quando foi estuprada. Ela diz que sofreu um aborto e viu os milicianos hutus atirarem o corpo do bebê aos cães. (...) “Houve hutus que morreram porque tinham inteligência e visão e não quiseram matar, e então foram mortos. Ou tinham relações próximas com os tutsis. Tinham mulheres tutsis a quem não queriam matar. Se houve hutus foram mortos no genocídio, não é porque eles foram visados.” (...) O ministro Mucyo espera que o genocídio de 1994 seja o último na história de Ruanda. "Para isso estamos criando todos estes mecanismos, buscando soluções para que isto não recomece novamente. Sabia que tínhamos na carteira de identidade a nossa etnia. Havia cotas étnicas nos exames para fazer o curso secundário e a universidade. Agora estabelecemos comissões de reconciliação que vão pregar a paz. Já não é como antes, quando se pregava o ódio e a divisão étnica e havia rádio, televisão e jornais". Mucyo reconhece que o processo de integração de Ruanda vai demorar. "Se pregamos a divisão desde de 1959 até 1994, não é em 5 ou 10 anos que v ai mudar", diz o ministro ruandês. 30 de agosto de 2001, BBC.
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