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Seleção natural
 
 
 
Darwin elaborou seu conceito de seleção natural pensando no que hoje chamamos de fenótipo dos indivíduos. Mas segundo a teoria sintética da evolução, a única mudança que interessa do pondo de vista evolutivo é aquela que ocorre nas freqüências gênicas das populações. As mudanças observadas nos fenótipo são apenas conseqüências. No exemplo abaixo, você poderá entender como as duas coisas se relacionam, além de aprender alguns fatos importantes sobre a seleção natural.
 
 
 
Existem dois alelos para o gene da hemoglobina. Um deles (H) determina a produção de hemoglobina normal. O outro (Hs) determina uma forma defeituosa da hemoglobina. Se um indivíduo for homozigoto (Hs Hs) para este alelo defeituoso, ele terá uma forma de anemia crônica chamada de falciforme, que faz com que suas hemácias (que normalmente têm o aspecto de uma bala soft) fiquem em forma de foice, o que, entre outras coisas, causa sérios problemas respiratórios e circulatórios. Por causar tantos problemas, o alelo da anemia falciforme sofre forte seleção negativa, ou seja, tende a ser eliminado da população.
   
   
   
 
 
 
No entanto, existem certas áreas na África onde este alelo está presente em até 30% das pessoas, quase sempre na forma heterozigota (H Hs), já que os homozigotos para o alelo da anemia falciforme tendem a viver muito pouco. O que levaria à preservação deste alelo nestas áreas? A resposta reside no fato de que nas mesmas regiões onde este alelo é comum, a incidência de malária é muito alta. Já foi constatado que quanto maior a incidência de malária, maior a freqüência do alelo defeituoso.
Sabe-se que o Plasmodium falciparum, o protozoário causador da malária, ataca as hemácias sadias, mas não consegue atacar as hemácias falciformes. No caso dos indivíduos heterozigotos as hemácias não chegam a ser realmente falciformes (de forma que o indivíduo não sofre da doença), mas tem uma grande quantidade de hemoglobina defeituosa, suficientes para impedir a infecção da hemácia pelo P. falciparum. Por esta razão, os indivíduos heterozigotos para este alelo são imunes à malária, e o alelo defeituoso da hemoglobina passa então a ser vantajoso nestas áreas. Isso explica por que sua freqüência é mais alta onde a malária é mais comum. Imagine agora que a malária se espalhasse pelo planeta todo. O alelo defeituoso passaria então a ser vantajoso em qualquer lugar, e sua freqüência subiria em toda a espécie humana. Se por outro lado a malária fosse erradicada da África, então, o alelo não seria mais vantajoso em condição nenhuma, e provavelmente em algumas gerações sua freqüência nas populações africanas cairia até se aproximar da freqüência nas outras populações humanas, que é muito baixa.